domingo, 20 de dezembro de 2009

Roteiro da poesia brasileira anos 2000






Já está circulando nas livrarias a antologia Roteiro da Poesia Brasileira anos 2000, organizada por Marco Lucchesi para a editora Global. Quatro poemas meus foram selecionados e constam na coletânea. Outros três autores pernambucanos estão por lá: Micheliny Verunschk, Delmo Montenegro e Inaldo Cavalcanti. Como toda antologia ela receberá reservas, críticas e xingamentos. Deve-se começar a perceber o catráter particular (não pessoal) das antologias, frutos sempre de uma perspectiva entre várias possíveis. Assim, todas elas, sem exceção, apresentarão "defeitos" aos olhos dos leitores mais informados. De qualquer modo, o mérito da seleção do Marco Lucchesi é a apresentação de nomes que não circulam tanto no cenário atual da poesia brasileira e isso é bem interessante e positivo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Poema de Agripino da Silva (poeta simbolista levantado pela minha pesquisa sobre o simbolismo em Pernambuco)

Ocaso das Constelações


O azul flavesce; o azul cintila; o azul corusca.
Flori, viça o rosal punício da alvorada.
A noite, em desalinho a cabeleira fusca,
Dorme: a noite desperta à estrela serenada...

Erra, smorça a canção dos astros... Ampla e brusca,
A luz irrompe, a luz derrama-se dourada;
Espalha-se, percorre o Éter; e desce em busca
Da terra, à sebe, à serra, à balseira, à esplanada.

A noite ergue-se, entrança as madeixas profusas
E foge. Áurea, a manhã reponta; vem sorrindo.
As gemulas do orvalho irizam-se difusas.

O poente sideral dissipa-se. De rastros,
– homem-réptil – bendigo o aprazimento infindo
De ouvir, de olhar surpreso, os adeuses dos astros.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Elogio da imperfeição (em seis perguntas impertinentes)

1. Quem desejaria as nuvens geométricas?

2. Quem mandaria esvaziar Veneza?

3. Quem corrigiria o pavimento da velha Olinda?

4. quem consertaria a torre de Pisa?

5. Quem apagaria os pequenos defeitos do ser amado?

6. Quem colocaria braços na Vênus de milo?

terça-feira, 15 de setembro de 2009

linha perdida

Olhar o mar para esquecer o provisório. Olhar o mar para mergulhar no destino. Olhar o mar para se deixar ir, rumo ao escuro silêncio do início. Procurarão meu nome, mas encontrarão um rastro nas águas que um breve instante apaga. Eu serei a linha que se perde e mistura noite, água e terra. Eu serei um sopro. Eu serei meu filho. Nascido diante do mar, perdido no perfil das estrelas.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

entropia

Na tela
a palavra noite
cercada de branco
por todos os lados

Na tela
o branco absoluto
devora a pretensão
de criar ou dormir

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Num banheiro, na Paris de 68:

"A felicidade é burguesa. Só a alegria é revolucionária".

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Dúvidas


projetos e mais projetos, só não tenho tempo para realizar todos. Projetos solitários, com a esposa, com os amigos, projetos para todo gosto. Uma vida é pouco para a quantidade de coisas que desejamos fazer... multiplicar o tempo para não perder a vida ou multiplicar a vida para não perder tempo? Só sei que perco muito dos dois, como todo mundo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Palavras tristes

Palavras são como a textura imprevisível do sonho. Às vezes nos levam ao paraíso, outras nos lançam ao inferno. Hoje, um inferno de palavras, repetidas, trituradas, apodrecidas, bagaços de palavras. E um cheiro ruim e constante de incompreenção. Amanhã, porém, sei que, mudas, as palavras nos devolverão ao fluir tranquilo de nossos desejos, de nossa vida feliz.  

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Chuva e vida


Tarde sem espaços para respirar. De um lado o trabalho, do outro a energia do filho. Lá fora a chuva que, indiferente à vida, insiste em cobrir tudo. Uma névoa pesada sobre prédios e sobre minha vontade de fazer as coisas. Francisco, porém, não sabe de nada, nem da chuva nem das lembranças que ainda não tem. Eu e ele, sozinhos, remoemos nosso pequeno mundo. Num gesto com a mão para cima e o olhar voltado para o janelão de vidro de nossa sala, com a língua que é só sua, ele me diz que o seu mundo é muito maior e surpreendente que o meu. Eu que deixo a gravidade do vivido atrapalhar os vôos da vida. Poderei, um dia, aprender com ele?

domingo, 16 de agosto de 2009


Semana de festival: o sétimo festival recifense de literatura , "A Letra e a Voz". A vida literária muitas vezes se incompatibiliza com a própria literatura. Tende a seduzir jovens autores que falam já em uma obra, a sua "obra", tendo publicado dois ou três livrinhos. Para além das contradições inevitáveis que um festival literário apresenta e sempre apresentará, a iniciativa é fundamental. Para além dos supostos gênios pueris e dos plantonistas da fama literária, coisas instigantes do festival: Heloísa Buarque de Holanda (organizadora de duas antologias essenciais para a discussão e o debate sobre poesia brasileira contemporânea - 26 poetas hoje e Esses poetas, anos 90); professores estrangeiros, ou nossos que lá fizeram casa como Saulo Neiva que estuda a épica na produção poética contemporânea e leciona na Blaise Pascal. Cristovão Tezza, autor de O Filho Eterno, que ainda não li, embora me pareça um livro que se mostra necessário em meio a tantas inutilidades. Devo vencer uma certa resistência em relação ao Tezza, que me parece ser um bom escritor. A origem de minha resistência? a completa incompreensão do valor da obra de Osman Lins, registrada num infeliz artigo publicado a alguns anos. Minha discordância é completa em relação ao julgamento que ele fez da obra osmaniana. 
Por falar em contradizer a inutilidade geral contemporânea, teremos ainda Ronaldo Correia de Brito, ganhador do prêmio São Paulo, com seu Galiléia (livro mais que necessário!), a poesia de Lenilde Freitas e Everardo Norões (que não recitará, mas apresentará uma mesa na quinta sobre as relações da literatura francesa e brasileira). Esses são os dois mais interessantes nomes da poesia pernambucana atual. 
Enfim, dai a festa o que é da festa, sem esquecer o que é da literatura. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

As marcas do lugar

Uma casa: quarto, terraço, sala. Um lugar: jardim, praça, onde pousar. Este espaço. Um lugar da palavra e da fala, espaço-escrita para as tardes vagas, as noites insones, os dias livres. Toda casa é lugar de quem chega e que cada um traga a sua própria fala.